sexta-feira, 9 de abril de 2010

Território

Não sou dono de nada. Nem de mim sou dono!
Algumas pessoas urinam em seus supostos territórios, simplesmente porque estão ali há mais tempo. Querem demarcá-los, têm receio de que outros venham e as expulsem, sejam mais fortes, mais capazes. Fecham-se. Tentam repelir.
Pois a urina alheia não me espanta. Tenho olfato seletivo. Gosto do cheiro do meu xixi misturado ao dos outros. Quanto mais urina, mais uréia. Mais adubo, mais colheita.
Não se pode possuir clientes, alunos, amigos, empregados. Pessoas não podem ser donas das outras. Nem amantes que, no afã de expressarem seus mais íntimos sentimentos, declaram-se propriedade um do outro, na verdade o são.
Quando o homem perceberá que não pode ser só? Quando notará que sempre precisará do outro? O comunismo de Marx, desvirtuado por loucos ditadores, afortunadamente morreu, mas a coletividade jamais perecerá. Porque é a única saída para o desenvolvimento, para a evolução, para o bem-viver. Para o sobreviver, em um planeta de bilhões.
Portanto, não vou te impedir. Mas não pense que vou recuar.
Pode urinar à vontade!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O momento transformador

O começo de um momento transformador em nossas vidas é indubitavelmente perturbador. Emociona, arrepia e oprime, e deprime.
O desconhecido revela-se sem deixar-se conhecer. É o escuro anunciado, previsto, necessário em qualquer mudança.
A coragem é qualidade indispensável àquele que quiser desafiar a lógica, quebrar a rotina, arriscar o certo.
E coragem quase irresponsável, de não medir por não saber as reais consequências de um movimento novo, de uma evolução não treinada, de um desvio cego.
Nunca antes deparei-me com esse momento. Não da maneira mais solitária em que me encontro, vácuo de compreensão, de empatia. Vácuo de decisão.
Nessas horas percebi que um monólogo interior é meu único debate. Que meu eu precisa se entender comigo mesmo. Que só o meu próprio ser é capaz de me dar a força necessária para seguir adiante.
Logo eu, um ser interpessoal por natureza? Logo eu, que sempre preciso do ombro amigo, do colo de mãe, do beijo de amor? Que tapa estridente e dolorido em meu rosto!
Momentos transformadores nos fazem refletir... e o transformar então não resume-se a fatos, objetos, coisas.
Transformam alma. Transformam corpo. Transformam um ser que se cansou de ser por ser.
Dói. Mas é preciso. E o que está saindo valerá a pena.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A conspiração ao meu querer

Preciso render-me aos fatos. Há momentos em que inúmeras forças conspiram contra o meu querer. Não há um culpado; não é Deus, ou a conjunção dos astros. Mas hoje é um daqueles dias em que nada que tentei fazer deu certo.
O que fazer diante de uma reunião de contratempos, de um conluio de reveses, de um contrafluxo intransponível de acontecimentos?
Indignar-se, resmungar, perder o humor e a paciência? De nada adiantaria, eu já estive na mesma situação, reagir assim só me deu mais cabelos brancos.
Resignar-se? Tampouco.
Momentos assim nos ensinam a ser estrategistas. Subitamente vem à minha mente uma imagem de Maradona na Copa de 1986. Nela, um solitário camisa 10 argentino à frente de pelo menos sete jogadores da Inglaterra. Naquele momento Maradona encontrava a conspiração ao seu querer.
O resultado desse confronto foi o talvez mais lindo gol feito por um jogador em uma Copa do Mundo. Arrancou, driblou um, passou por outro, até chegar ao gol, exausto, e ainda ter forças para empurrar a bola para as redes, para delírio de seus conterrâneos.
Hoje tenho de ser Maradona. Ou talvez nem tanto. Mas é meu dever encarar as adversidades e suplantá-las. E torcer para que amanhã os encadeamentos fáticos me sejam favoráveis. Pois ninguém, nem mesmo Maradona, é Maradona, todos os dias.