sábado, 18 de abril de 2009

Como educar um país?


Tenho ouvido e presenciado muitas opiniões de diversas pessoas relacionadas a educação que têm me deixado preocupado. O conservadorismo e a massificação de nossa educação comprometem a qualidade da formação educacional e cultural das próximas gerações.
Corrigir todo e qualquer erro do aluno, focar no vestibular, decorar a matéria... isso tudo era verdadeiro em meu ambiente escolar quando era pequeno, lá se vão mais de 30 anos. O mundo mudou muito nesse período - e estudos sobre educação já mudaram a forma de se ensinar no mundo desenvolvido.
Já não é mais aceitável, por exemplo, que exista a dicotomia inteligente versus burro. Já não se pode mais ensinar algo de uma só maneira. Quem não aprende não o faz porque não está tendo a sua inteligência específica, o seu estilo de aprendizagem, devidamente estimulado. Cada pessoa aprende de forma diferente, e cabe ao professor e à escola utilizarem-se de todas as abordagens possíveis para contemplar a todos.
Você acha que é o professor que ensina seu filho, transmitindo e ele o seu conhecimento? Está enganado. O professor é mediador de um processo em que o aluno é protagonista. Esse processo é interativo, inter e intrapessoal. Ou seja: o aluno é agente do processo, e aprende através do convívio com outros e do conhecimento maior sobre si mesmo.
É preciso estudar apenas para tirar notas boas nas provas? Gente, prova não prova nada... estudiosos do assunto consideram fundamental que voltemos o nosso sistema de avaliação ao processo de aprendizado. Isso quer dizer que o caminho mental que o aluno faz para assimilar certo conteúdo é muito mais importante do que fazê-lo memorizar conceitos tais quais eles aparecerão em provas. A memorização desvanece-se com o tempo. O aprendizado proveniente de exercitação cognitiva, de manipulação dos conteúdos, de contextualização e personalização dos mesmos, esse dura, permanece vivo ao longo do tempo. A prova surgiu após o ensino, após a necessidade de se educar. Não se deve voltar toda a estrutura escolar para a aprovação em provas, incluindo aí o vestibular, pois assim reduzimos a educação a mero treinamento. Aposto que um aluno submetido a um aprendizado cognitivo e mais sociointeracionista tem mais condições de ser aprovado num vestibular de uma universidade federal, do que um aluno que passou sua vida escolar decorando tabelas, fórmulas e conceitos.
O vestibular, aliás, essa famigerada instituição, graças a Deus está com seus dias contados. A necessidade de aprovação em vestibulares encolheu o nosso Ensino Médio para apenas dois anos. Sim, porque o terceiro ano não tem mais conteúdos novos. É o chamado "Terceirão", curso pré-vestibular enxertado no último ano do Ensino Médio, para satisfazer pais que não refletem e são submissos a um sistema retrógrado de ensino. Em consequência, toda a grade curricular, desde o Ensino Fundamental, tem sido reformulada. Agora, com o Fundamental de 9 anos, dá-se uma carga absurda de conteúdos para os alunos que saíram da Educação Infantil, com 6 anos de idade, forçando-os a serem responsáveis e mais maduros cognitivamente do que realmente são, tudo para encaixarem o Terceirão, imprescindível para o aluno "se dar bem na vida"...
Nesse contexto, é proibido pensar diferente. Levante a mão para bradar contra o vestibular e a decoreba, e você verá quantas pedras virão em sua direção.
Outra verdade burra: é necessário que o aluno seja corrigido em TUDO, desde o menor desvio de pontuação ou acentuação, ortografia, sintaxe...
Ora, já diziam os orientais, há milênios, que se aprende mais com os nossos erros do que com acertos. Corrigir sistematicamente toda a produção de um aluno o torna incapaz de avaliar sua própria condição, o deixa inseguro, receoso de arriscar, com sua autoestima baixa. É pela exposição do aluno ao correto e pela oportunidade que o daremos de comparar a sua produção com o modelo, que teremos um crescimento cognitivo e metacognitivo desejável nele. Deixemos nossos alunos pensarem livremente, compararem, chegarem a conclusões! Não somos vasos onde nossos mestres despejam o conhecimento pronto e pasteurizado.
Meu receio é que inevitavelmente tenhamos para as próximas gerações cidadãos submissos, incapazes de refletir e criticar a ordem social, econômica e política em que vivemos.
Tudo porque não os demos oportunidades para pensar. Pense nisso.
Ainda vamos conversar sobre a universidade pública no Brasil, e seus paradoxos. Mas isso fica para uma próxima. Um abraço!

Um comentário:

  1. É, o grande problema de tudo isso é a desvalorização do profissonal. No passado o professor tinha autonomia para educar. Hoje tudo traumatiza o aluno. Hoje o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende e as coisas vão se encaminhando do jeito que estamos vendo por aí. Se o esino continuar com a formação aprensentada hoje não teremos profissionais qualificados para o mercado de trabalho futuro e daí sim teremos realmente adultos frustrados e submissos. Abraço

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